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sábado, 7 de junho de 2025

Um vento impetuoso e um gemido murmurante

O Espírito renova a face da terra

Frei Almir Guimarães

Vê, Senhor, desse vento que é teu próprio sopro, hálito de tua vida e de teu amor, o que andamos fazendo. O Espírito da vida tornou-se um pássaro de pedra numa parede de nossos templos.
Petrificamos o vento do Espírito. (Revista “Prier”, maio de 1988)

 Belíssima solenidade esta do fogo, do vento violento e da brisa suave. Sopro, hálito, vento. O Espírito procede do Pai e do Filho. É o Defensor. Mais uma vez mergulhamos no mistério da Trindade. O Pai, o Filho unidos. O Filho gerado, não criado. Entre o Pai e o Verbo, o sopro do Vento, do Espírito. O Pai envia o Filho e o Espírito o unge ao sair das águas do Jordão. O Espírito está sobre Jesus. O Filho é ungido. Depois da missão do Filho o Espírito vela pela obra do mundo novo inaugurada pelo Verbo feito carne.

 No alto da cruz, no momento da morte, segundo o quarto evangelista, “Jesus entrega o Espirito”. Não se trata apenas de dar o espírito, com e minúsculo, mas o Sopro, o Vento, a Luz. Ele, o Espírito foi derramado em nossos corações. Depois ele seria derramado sobre os apóstolos numa radiosa manhã.

 É como o vento… Não é vento, mas como o vento. Vento, sopro, hálito. Vento que chega ao Cenáculo onde estavam reunidos os apóstolos com medo. Não se pode reter ou guardar o vento. Como o vento, o Espírito não pode ser “estocado”, nem percebido com as coisas palpáveis. O vento do Espírito sopra onde quiser e como quiser. Para onde sopra, em nossos dias, o Vento de Deus? Vento que mexe com as coisas paradas, mornas, estratificadas, rotineiras. Vento que não deixa o projeto de Jesus envelhecer.

 É como o fogo. A junção entre fogo e Espírito aparece em fala do Batista. Jesus receberia um batismo diferente daquele que o filho de Isabel e Zacarias administrava. Ele batizaria no Espirito e no fogo. “Apareceram línguas como que de fogo que se repartiram e se colocaram sobre cada um deles. E todos ficaram repletos do Espírito Santo”. Fogo: ardor, novo ardor, ardor sempre renovado. Nova evangelização, novo modo de ler a figura de Jesus. Jesus havia afirmado que, quando viesse o Paráclito, ele ensinaria todas as coisas.

 Sim, insistamos. O Espírito não admite os caminhos batidos. Ele é propulsor da novidade. A ele se atribui o excepcional, o extraordinário. É fonte inesgotável de criatividade. Entra em conivência com toda novidade quando esta venha a favorecer a instauração e consolidação do Reino. A presença do Espírito na Igreja faz com que ela se embrenhe pelos caminhos de um futuro não previsível.

 O Espírito é impregnação. É água que a tudo penetra. Ao lado das imagens do Espírito como movimento e ação ele é mostrado como impregnação. O Espirito é derramado como a água. Impregnação, interiorização, casa, habitação, morada. Nesta linha vão as imagens do óleo e da unção. Apoiado nessa imagens Santo Agostinho falará do Espirito como alma da Igreja. Dizemos que estamos “repletos” do Espírito Santo.


Para a reflexão e oração

Dá-nos teu Espirito, Senhor!
Onde não há Espírito surge o medo.
Onde não há Espírito a rotina invade tudo.
Onde não há Espírito a esperança murcha.
Onde não há Espírito não podemos reunir-nos em teu nome.
Onde não há Espírito esquece-se o essencial.
Onde não há Espírito introduzem-se normas.
Onde não há Espírito não pode brotar a vida.
Dá-nos teu Espírito, Senhor. (F. Ulíbarri)

 Penso nos vários sentidos que a palavra Espírito tem no texto bíblico: sopro, hálito vital, vento…E é isso que me apetece rezar nesta manhã, Senhor. Sopra sobre o indeciso, venha o sussurro do teu alento íntimo renovar o hesitante, a ventania de Deus nos mova. Parecemo-nos tanto a embarcações travadas, velas erguidas sem a energia de novas praias, de intactos e aventurosos cabos… Os nossos barcos rodam apenas em torno de si próprios. Manda, Senhor, a pulsão do Espírito, o ânimo criador que incessantemente nos coloca ao encontro da novidade e da beleza de teu Reino. (José Tolentino Mendonça, Um Deus que dança, Paulinas, p. 80)

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FREI ALMIR GUIMARÃES, OFMingressou na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor da Revista “Grande Sinal”.

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                                                          Fonte: franciscanos.org.br    Banner: vaticannews.va

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